terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Prefácio do livro publicado Furacões de Mel Delinquentes ou Adolescentes

Seráo todos adolescentes delinquentes? É preciso refletir sobre o que é adolescência o que é delinquência.
Quando fui convidada a desenvolver um trabalho psicopedagógico com a Michele, disseram-me que ela era uma adolescente que havia escrito um livro entitulado "Delinquentes ou Adolescentes". Pensei séra essa sua deliquência?
Eu estava la para melhor e enriquecer a sua linguagem escrita. Porém ao longo do trabalho, algo se processou entre nós duas. Escrever para Michele era sua forma máxima de expressão, a partir da qual era podia ser mostrar-se por inteiro, tornand0-se a sua linguagem vital. Ela escrevia com o corpo, com o coração, com as vísceras. As palavras brotavam em torrentes emoções. Como eu podia falar apenas de regras gramaticais quando a vida mesms pulsa atráves daquelas palavra?
Realmente era aquela a sua deliquência: esse desejo de revalar-se, de mostrar as entrelinhas de sua vida, contrariando o destino previsível de sua história pessoal, como habitante das favelas, de sua pobreza, de seus becos, de sua violência e das suas tramas sujas e tristes.
Eu só pude cuidar da sua escrita, quando eu mesma percebi a adolescência e a deliquência que também me pertenciam.
Afinal ser mulher, negra, nascer em um bairro pobre, ter opinião própria e ainda ter a ousadia de sonhar, não seria uma das maiores deliquência nesse país? E nisso éramos cúmplices!
Tomadas por essa deliquência , adoravelmente juvenil, passamos a trocar cartas, confidências e segredos. Eu a incentiva a falar de assuntos que ela julgava proibidos, respeitando, ao mesmo tempo, o seu dialeto próprio e pessoal.
como numa metamorfose, a cada capítulo que revisava, Michele revia também os sentidos da sua vida. Ela encontrou metáforas; amadureceu idéias, como o próprio título do livro ousou contar fatos, até então, omitidos, guardados em seu coração. Ora ela estava animada, ora deprimida, ora radiante, ora revoltada com as dificuldades do processo, enfim, vivia com intensidade a construção da sua linguagem adolescente.
Naquele momento eu podia abandonar as teses sobre adolescência dos manuais de Psicologia, pois saltava ali á minha frente, a adolescência real, possível, contextualizada. Ela me falava de questões que não eram apenas suas, mais sim de todos os jovens, como a importância da turma, do primeiro namorado, do tornar-se mulher; da primeira menstruação; da sexualidade; da contestação; das revoltas, dos conflitos com os pais; da indignação com as injutiças sociais; do fantasma e da sedução das drogas, dos ídolos; partindo de um tempo espaço concreto e muito próximo de nós:a periferia de São Paulo nos anos 90.
Assim, suas palavras foram se ajeitando no papel. E hoje estão prontas para se revelarem, a quem deseje guiar-se pelo movimento vivo, perigoso e delinquente desse furacão, que como num rito de passagem , é condição essencial para que possa provar o doce mel da adolescência.

Rosmari Pereira de Oliveira

São Paulo, dezembro de 1999

2 COMENTÁRIOS:

Anônimo disse...

Oi Michele, tudo bem?
Adorei os seus poemas.
Siga em frente, tenho certeza de que vai conseguir tudo o que almejar nesta vida.
Beijos e estou com saudades...
Maria Costa.

Anônimo disse...

Querida Michele,

Foi uma grata surpresa encontrá-la por aqui dando continuidade à sua paixão pela escrita...

Receba meu carinho,
Rosmari P. de Oliveira
http://r.p.oliveira.sites.uol.com.br/

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